A história da ilusão do ego

Havia um grande filósofo, como há muitos. Mas aqui trata-se de uma história que ele conta em sua obra "A Ilusão do Ego", usada para responder às perguntas básicas das crianças, como: "De onde vem o mundo?", "Onde eu estava antes de nascer?", "Por que Deus criou o mundo?", "Para onde as pessoas vão quando morrem?".

Como Alan Watts escreve em seu livro, esta é uma história bastante antiga e de fácil compreensão, que, como ele mesmo diz, não se originou com ele, mas sim na antiga Índia, e apresenta uma explicação mística da filosofia Vedanta.

E, embora eu não seja mais uma criança, aprecio tanto essa história maravilhosa que gostaria de passá-la adiante, para lembrá-la novamente a todos. Talvez devêssemos também voltar a ser como crianças, como disse Jesus, a fim de entender as coisas tão simples que muitas vezes não somos mais capazes de fazer em nossa vida cotidiana de adultos. Talvez não porque não queremos, mas porque nos esquecemos, porque fomos ensinados de forma diferente. Mas todos nós podemos, se quisermos, se tivermos coragem, se tivermos pessoas ao nosso lado que nos estendam a mão, nos apoiem e nos guiem para encontrar nosso caminho de volta à luz.

E agora a historia

“Nunca houve um tempo em que o mundo começou, porque ele gira e gira como um círculo, mas não há um ponto em um círculo onde ele começa. Olhe para o meu relógio de pulso, que marca as horas; os ponteiros sempre giram em um círculo, e assim o mundo se repete de novo e de novo. Mas, assim como o ponteiro das horas do relógio sobe para as doze e desce para as seis, também há o dia e a noite, acordar e dormir, verão e inverno, viver e morrer. Um não seria possível sem o outro, porque você não seria capaz de saber o que é o preto a menos que o tivesse visto lado a lado com o branco, ou o branco a menos que estivesse lado a lado com o preto.

Da mesma forma, há momentos em que o mundo é, e momentos em que não é, pois se o mundo continuasse sem descanso para todo o sempre, ficaria terrivelmente cansado de si mesmo. Ele vem e vai. Em um momento você o vê, em outro não. Então, porque ele não se cansa de si mesmo, sempre volta depois que desaparece. É como sua respiração: você inspira e expira, inspira e expira, e se tentar prendê-la por muito tempo, você se sentirá muito mal. Também é como brincar de esconde-esconde: porque é sempre divertido encontrar novas maneiras de se esconder e procurar alguém que nem sempre se esconde no mesmo lugar.

Deus também gosta de brincar de esconde-esconde, mas como não há ninguém além dele, ele não tem com quem brincar. Mas ele supera essa dificuldade fingindo que não é ele mesmo. Esta é a sua maneira de se esconder de si mesmo. Ele finge ser você e eu e todas as pessoas do mundo, todos os animais, todas as plantas, todas as pedras e todas as estrelas. Desta forma ele vive aventuras estranhas e maravilhosas, algumas das quais são terríveis e assustadoras. Mas estes são como pesadelos, que felizmente quando ele acordar eles desaparecem.

Agora, quando Deus brinca de esconde-esconde, fingindo ser você e eu, ele o faz tão bem que leva muito tempo para lembrar onde e como ele se escondeu. Mas essa é toda a graça - exatamente o que ele queria fazer. Ele não quer se encontrar muito rapidamente, pois isso estragaria o jogo. É por isso que é tão difícil para você e para mim descobrir que somos Deus disfarçado, fingindo não ser ele mesmo.

Mas quando o jogo tiver durado o suficiente, todos nós acordaremos, vamos parar de fingir o contrário e lembraremos de que somos todos um Ser - o Deus que é tudo o que existe e que vive para todo o sempre.

Claro, você deve se lembrar que Deus não tem a forma de uma pessoa. Os seres humanos têm uma pele, e sempre há algo fora de nossa pele. Se não existisse, não saberíamos sequer a diferença entre o que está dentro de nosso corpo e o que está fora dele. Mas Deus não tem pele nem forma porque não há nada fora Dele.

(Com uma criança que já é inteligente o suficiente, ilustro isso com a ajuda de uma fita de Möbius – uma tira de papel enrolada em um anel e torcida de modo que tenha apenas um lado e uma borda). O interior e o exterior de Deus são o mesmo. E embora eu tenha falado sobre Deus como 'ele' e não como 'ela', Deus não é um homem ou uma mulher. Eu não disse 'isso' porque costumamos dizer 'isso' para objetos e coisas que não estão vivas.

Deus é o Ser do mundo, mas você não pode ver Deus pela mesma razão que, sem um espelho, você não pode ver seus próprios olhos e certamente não pode morder seus próprios dentes ou olhar dentro de sua cabeça. Seu eu está tão habilmente escondido porque é Deus se escondendo.

Você pode perguntar por que Deus às vezes se esconde na forma de pessoas horríveis, ou finge ser pessoas que sofrem de grandes doenças e dores. Lembre-se, primeiro, de que ele não está realmente fazendo isso com ninguém além de si mesmo.

Lembre-se também de que quase todas as histórias que você gosta, são compostas de pessoas boas e más, porque o mais empolgante em uma história é acompanhar como as pessoas boas triunfam sobre as más. É como quando jogamos cartas. No início do jogo, todas as cartas estão bagunçadas, o que pode ser comparado às coisas ruins deste mundo, mas o objetivo do jogo é colocar a bagunça em ordem, e quem fizer isso melhor é o vencedor. Então embaralhamos as cartas mais uma vez e jogamos de novo, e o mesmo acontece com o mundo.”

Do livro „Tabu - O Que o Impede de Saber Quem Você É?“ de Alan Watts

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Será que, às vezes, não nos sentimos perdidos de alguma forma, e incapazes de nos reencontrar porque nos esquecemos, assim como Deus se esquece de si nessa história?

Talvez sim, talvez não. Porque, assim como Deus sabe que é apenas um jogo e que não pode se perder, todos nós também sabemos. Só que, em nossa experiência diária no mundo da dualidade, é ainda mais difícil lembrar que fazemos o mesmo com nós próprios. No final das contas, somos todos um, mas só estamos separados para podermos experimentar a nós mesmos. Assim como o olho não pode ver a si mesmo e precisa de uma ferramenta para isso, as outras pessoas são nossos espelhos nos quais podemos nos encontrar. Mas parece tão difícil lembrar, e às vezes parece que tudo se volta contra nós, nesta tentativa de nos redescobrirmos. Mas é a nossa mente que nos impede, porque ela não consegue captar e compreender o que pode ser sentido e vivenciado com o coração e o amor. Essa ferramenta complexa não parece ter sido feita para tarefas tão simples e, portanto, nos impede de ir além e, assim, alcançar essa reunião sem esforço.

E mesmo que leve muito tempo para um e pouco para outro, todos nós retornaremos à Fonte. Tudo e todos têm seu tempo, e o Grande Espírito está sempre presente e sempre o ajudará a se levantar quando você cair. Até o momento em que você conseguirá se levantar com suas próprias forças. Essa é a lei da natureza e o ciclo da vida. Mas é claro que podemos fazer nossa parte para nos libertarmos a qualquer momento dos sofrimentos mencionados por Buda e, assim, influir no tempo para alcançar a meta do caminho mais rapidamente.

O que é uma tira de Möbius?

Também conhecida como fita de Möbius, ela se refere a uma superfície que tem apenas uma face e uma aresta. Se você a descrevesse como uma tira de papel alongada, colada nas extremidades e girada 180 graus, veria que não é possível distinguir entre acima e abaixo ou fora e dentro. Praticamente não há uma orientação e a tira se funde em si mesma, de modo que, quando você começa a colorir um lado, tudo fica colorido no final.

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Para todos aqueles que ainda não conhecem o livro e gostariam de entender mais sobre a ilusão do ego e a dualidade em nosso mundo, eu recomendo fortemente a leitura. Abaixo da história há um link para fazer o download do livro. Se quiser saber mais sobre o autor Alan Watts, você pode encontrar mais informações no Wikipedia. Como ele também trabalhou muito com a sabedoria da Ásia Oriental, há muitos outros livros excelentes, especialmente no campo do taoísmo, mesmo que nem sempre sejam fáceis de entender à primeira vista, mas que são muito apreciados. Se quiser se manter informado sobre as novas publicações do blog, basta assinar o Newsletter. Estamos contentes com sua visita.

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